segunda-feira, 28 de junho de 2010
afeto
o que digo não buscar no outro,
mas que no fundo busco,
é aquilo que, no fundo,
deveria buscar em mim,
mas não busco.
terça-feira, 11 de maio de 2010
colagem
dentro, o som percorre cadeiras.
fora, a pessoa desfila a música que não ouve.
som distinto,
imagem distinta,
cena única.
a música?
não sei.
funk. forró.
funrró.
a pessoa lá fora?
não sei.
é homem? não
é mulher.
sábado, 27 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
dia de
Telma Weber, "Flores para Iemanjá" - 100x80cm - O.S.T.
Dia de sol:
calor.
Dia de mãe:
amigos.
Dia de água.
Dia de Iemanjá.
Peixe.
Dia de mergulho no mar.
Vista pregada nos olhos,
pele em brasa:
dia de água gelada,
dia de respirar:
o verde ao redor,
o azul além,
o vermelho aqui.
Dia dois. Dia dois do dois.
Dia de mãe:
dia de Iemanjá.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
na porteira do conhecimento
Chegando em casa ele ouve o capixaba do porteiro falando:
- Nessas áreas do pensamento... vou te contar...
No que a também capixaba da velhinha do quinto andar respondeu:
- Esse tal de cérebro não é mole não!
.
.
.
É... Não é mole não...
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
tristeza sem fim
Minha irmã já me dizia:
- Pra pior não tem limite.
Quando no dia 12 de janeiro de 2010, as 15h11min, escrevi sobre ser “triste um fim de mundo assim”, me referindo ao calor insuportável que fazia na cidade do Rio de Janeiro, com sensação térmica de 50°C, jamais poderia imaginar que, poucas horas depois, um terremoto de 7 graus na escala Richter atingiria o Haiti deixando um sem-número de mortos.
Jamais poderia imaginar que um terremoto de tal magnitude iria arrasar a infraestrutura da capital, Porto Príncipe, deixando 10% dos prédios destruídos e milhares de desabrigados.
Jamais poderia imaginar que a situação humanitária na cidade iria se tornar tão grave em tão pouco tempo, que faltaria água e comida e que os milhares de mortos iriam ser amontoados no meio das ruas num cenário semelhante ao Holocausto.
Jamais poderia imaginar que o mundo, literalmente, desabaria na cabeça daqueles que habitam a ilha de história conturbada.
O outro mundo tenta acelerar a ajuda humanitária ao país para evitar o colapso. Mas o governo local já relatou saques, episódios de violência e a volta à ação de gangues armadas.
– Isso tudo já não seria o colapso? – eu me pergunto.
– Definitivamente, não sei. Porque pra pior não tem limite, já dizia minha irmã...
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
2/3 de mim ou sobre o calor
CALOR Calor calor calor. Calor calor calor calor calor. calôcalôcalôcalôcalôcalôcalô. CALOR.
Derreto. Colo.
Já não sou mais eu.
Eu sou 2/3 de mim.
1/3 escorreu pela pele.
Será o fim do mundo? - Penso.
Talvez.
Qualquer coisa em mim se desespera:
que triste um fim de mundo assim.
Então, os 2/3 de mim se manifesta,
espera. ("espera" de "ter esperança"):
se todos virarem 2/3 de si próprios,
o mundo terá 1/3 per capita a menos de...
de...
Lançamento de gases tóxicos.
Produção de lixo.
Mau uso dos recursos naturais.
O metro² per capita vai aumentar.
O planeta terá mais espaço e.
Sempre existe uma possibilidade de reflorestamento.
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
o encontro II
De repente, no meio da multidão, uma mão no ombro:
- Nu acrediitu.
O ombro vira, arregala:
- Caaaraaaalhu!!!
- Poorraaa, muleeque! Nu acrediitu!!!
Sorrisos estampados nos rostos, apertado aperto de mãos e abraço com soquinhos nas costas.
- Comé qui tu tá, teu filho da puutaaa?!!!
- Poorraa, brother, tô bem!
- Tu vai lá na parada lá?!
- Vô vô! Tu vai?!
- Vô vô!
- Nu acreditu. Caraalhu...
- Pô, veio curti aí?!
- É.
- Pô! Demorô intão! A gente se vê lá na parada lá!
- Porraa! Lóógicu! Valeu, meu camarada!
- Valeu, irmão!
Sorrisos ainda pregados nos rostos, novo aperto de mãos (como numa "queda de braço"), tapinhas nos ombros e olhos fixos nos olhos.
.
.
.
Adoro demonstrações espontâneas de carinho.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
azar de quem já nasceu borboleta
Desenhei.
Com lápis e papel desenhei.
O preto no branco desenhei.
O preto no peito pintei.
O preto na alma colei.
Mas do peito o preto tirei
e do verde a esperança peguei.
O amarelo no sorriso apliquei
e no nariz o vermelho preguei.
Agreguei, misturei, criei
e no azul as cores lancei.
E quanto mais preto, mais colorido.
E quanto mais morto, mais vivo.
E quanto mais infinito, mais findo.
É. azar de quem já nasceu borboleta...
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