quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

o encontro




Centro do Rio. Véspera de Natal. Um olhar. Uma dúvida:

– Elaine?

Elaine vira. Era mesmo Elaine.

Euforia e entusiasmo fazem brotar um largo sorriso no rosto da outra. Num impulso, esta abraça a amiga:

Caraaaaaalhooo!!! Puuutaaa que paariiiiuuu!!! Poooorraaaaa!!!

          .

          .

          .

Nunca vi uma demonstração de carinho tão intensa...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

descobrimento

        Loja Americana. Uma menina de uns quatro ou cinco anos. Empolgada, aponta o dedinho na diagonal alta. Exclama:
        - Ooolha, paaai! Que liiiindo!!!!
        O pai, com a animação dos que tem o peso da rotina entranhado na alma, pergunta:
        - O quê, filha?
        E a menina, com o frescor dos descobridores:
        - O Nataal!

domingo, 15 de novembro de 2009

uma história de mim mesma



Um dia peguei Vinicius emprestado para fazer
brincadeirinhas metafóricas.
Um rio nascia em meio aos
"Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore"
dos quais eu era feita.


Um rio nascia "em busca de luz".
Achei isso bonito e
deixei o rio nascer - disseram que
bastava eu querer.
Eu quis.
Achei que podia.


Mas o que não sabia era que o rio crescia...


O rio cresceu. Cresceu em volume.
Cresceu mais e tanto que
a força das águas foi levando embora os
"Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore":
matéria de que era feita.


E eu, tão pequena e frágil
diante da correnteza, não resisti
e me deixei levar.
Fui navegando ao sabor do vento,
Na aventura das águas,
No berço do seu corpo
Na sombra de seus gestos...
E o rio caiu.


O rio caiu.
"De repente, não mais que de repente"
Veio o precipício
e o rio caiu.
E como o rio e eu não éramos dois
e sim um,
eu também caí.
E quebrei.


E o que restou foi forma.
Forma triste.
E vazia.


E o rio caiu.
E o rio quebrou.
E o rio está perdendo força...


A forma triste e vazia agora
caminha com água
pela metade.
Caminha com uma peneira
garimpando
"Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore":
matéria de que era feita.


E
como uma escrava
vai engolindo pedras que
(re)encontra no caminho
para que ninguém roube,
de novo,
o que ela tem de mais valioso:
Ela mesma.

poemameu



Ponha, pouco a pouco, seu peito, seu corpo no meu.
Num impulso primaveril, precipite-se: pegue, aperte, apalpe.
Não me poupe. Não apele.
Pele na pele: palpita.
Palpite.
Suspeite... Mas pesquise por completo.
Pegue, aperte, apalpe,
dedilhe, toque...
E não apele. Ou apele.
A propósito: previna-se.
Mas não me poupe.
Ponha pouco a pouco.
Dedilhe, toque.
Movimente, suspire, pire.
Erupção.
Respire.
Após,
repouse.
Suas pupilas nas minhas.
Pele na pele,
pernas por entre pernas.
Pequeno apego.
Petit mort.