domingo, 15 de novembro de 2009

uma história de mim mesma



Um dia peguei Vinicius emprestado para fazer
brincadeirinhas metafóricas.
Um rio nascia em meio aos
"Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore"
dos quais eu era feita.


Um rio nascia "em busca de luz".
Achei isso bonito e
deixei o rio nascer - disseram que
bastava eu querer.
Eu quis.
Achei que podia.


Mas o que não sabia era que o rio crescia...


O rio cresceu. Cresceu em volume.
Cresceu mais e tanto que
a força das águas foi levando embora os
"Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore":
matéria de que era feita.


E eu, tão pequena e frágil
diante da correnteza, não resisti
e me deixei levar.
Fui navegando ao sabor do vento,
Na aventura das águas,
No berço do seu corpo
Na sombra de seus gestos...
E o rio caiu.


O rio caiu.
"De repente, não mais que de repente"
Veio o precipício
e o rio caiu.
E como o rio e eu não éramos dois
e sim um,
eu também caí.
E quebrei.


E o que restou foi forma.
Forma triste.
E vazia.


E o rio caiu.
E o rio quebrou.
E o rio está perdendo força...


A forma triste e vazia agora
caminha com água
pela metade.
Caminha com uma peneira
garimpando
"Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore":
matéria de que era feita.


E
como uma escrava
vai engolindo pedras que
(re)encontra no caminho
para que ninguém roube,
de novo,
o que ela tem de mais valioso:
Ela mesma.

4 comentários:

  1. "como uma escrava"
    muito bom!!!

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  2. Clarisse, preciso ler mais você. Como faço?
    Beijo de velho fã cada vez mais velho e cada vez mais fã. LW

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  3. O que ela tem de mais valioso? Ela mesma. Claro... ela mesma!

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  4. Pena que você parou... gostei dos dois primeiros posts! Abraços

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